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Aldo Daniele Locatelli

 

Bérgamo, Itália, 1915 - Porto Alegre, RS, 1962.

 

Aldo Locatelli nasceu em uma família humilde do norte da Itália, mas que tinha como valor básico o estudo e como meta a boa formação dos filhos. Desde os dez anos de idade o menino manifestou interesse pela pintura, a partir do contato com restauradores que trabalhavam recuperando obras na igreja local. Esse interesse foi forte o bastante para causar preocupação no pai, que imaginava para o filho um futuro mais próspero do que supunha a arte poder conceder-lhe. Mais tarde Locatelli lembrou que a opção pela arte lhe causara sofrimento, pois pesava-lhe muito desagradar os pais, por quem tinha verdadeira veneração. Mas incentivado pelos restauradores, e permanecendo inabalável, conseguiu, depois de dois anos, vencer a resistência paterna, já que o pai reconhecia que o filho não sabia fazer nada além de pintar. A partir daí dedicou-se inteiramente à sua carreira.

Em 1931 fez um curso de decoração no Curso Livre de Instrução Técnica, ligado à Indústria Andrea Fantoni. Ali teve aulas com o pintor Francesco Domenighini, que lhe proporcionou pela primeira vez contato com obras de grandes mestres da pintura renascentista. Um ano depois foi admitido na Accademia Carrara, de Bergamo, célebre instituição de ensino superior de arte, sendo introduzido no método e filosofia acadêmicos e tendo contato com Conrado Barbieri, diretor da instituição, cujas ideias fascistas teriam influenciado o artista. Nesta época teria produzido muitos estudos de retrato, paisagem e natureza-morta, num estilo ainda incerto e tendendo à estilização. Mas já então seu trabalho se destacava pela sua habilidade em construir cenas complexas e dramáticas. Premiado em 1937 com uma bolsa de estudos para aperfeiçoar-se na Escola de Belas Artes de Roma, aprofundou seus estudos sobre a arte da Roma Antiga e da Renascença, cristalizando uma filiação estética que seguiu por toda a vida.

Após sua graduação, aceitou em 1938 um convite de seu antigo amigo Taragni para ajudá-lo na decoração do Santuário de Pompéia, e no mesmo ano, uma encomenda para decoração da igreja de Santa Cruz no vale Brembana, mas não ficou ali por muito tempo. Convocado para o serviço militar foi transferido para a cidade de Ospedalete, embora conseguisse licenças para visitar museus e galerias de arte da região. No seu tempo livre, produzia obras pequenas, como retratos de seus companheiros e paisagens. No início da II Guerra Mundial foi enviado para Nápoles, e dali partiu para a África, onde participou de várias ações de guerra. Mas poucos meses depois foi dispensado, retornando a Roma e vivendo de pequenas encomendas. Em 1940 foi novamente requisitado pelo Exército italiano, retornando à África. Ferido em batalha, recebeu baixa definitiva. Então retomou as obras em Brembana, que se estenderam até 1944 ou 1945, sendo auxiliado por Emilio Sessa e Andrea Mandelli.

Em 1945 instalou um atelier em sua Villa d'Almè, passando a receber muitas encomendas. Também iniciou um trabalho como restaurador, chegando a recuperar peças das coleções do Vaticano. Em 1946 venceu uma licitação para a restauração da cúpula de uma igreja pontifícia em Gênova, a Colegiada Abacial de Nossa Senhora dos Remédios, bombardeada na guerra. Para realizar a obra, empenhou-se em novos estudos, conhecendo e apreciando a produção de Ângelo Landi. Paralelamente, mantinha sua produção de obras de cavalete, enfocando temas do cotidiano popular, naturezas-mortas e retratos.

Em 1948 viajou para o Brasil, a convite de Dom Antônio Zattera, bispo de Pelotas, no Rio Grande do Sul, para pintar a Catedral São Francisco de Paula de Pelotas. Pelotas lutava contra o declínio econômico e cultural, após ter sido conhecida no fim do século XIX até o início do século XX como "a Atenas do Rio Grande" e ter então dominado a indústria do charque, uma das maiores fontes de renda estadual na época. Neste ciclo Pelotas havia produzido um grande pintor, Leopoldo Gotuzzo, que, entretanto se mudara ainda jovem para Roma a estudo e depois se fixara no Rio de Janeiro, o centro da vida cultural brasileira. Seu nome permaneceu, porém, lembrado na cidade, e seu sucesso orgulhava os pelotenses. Desde 1918 funcionava um Conservatório de Música, e a partir dele um Instituto de Belas Artes foi fundado em 1927, época em que iniciou a fase de decadência da cidade. Por falta de verbas, em 1937 o Instituto foi municipalizado e voltou a se chamar de Conservatório de Música, suprimindo em seguida os cursos de artes plásticas. Ficara, pois um vazio, que Locatelli veio preencher, sendo reconhecido de imediato na cidade como um grande artista por causa do sucesso da sua decoração da Catedral pelotense. Suas eloquentes e grandiosas obras sacras murais foram identificadas pelo público local como um perfeito exemplo do que considerava a "verdadeira arte", e foram elogiadas por Gotuzzo.

Na recriação dos cursos de artes plásticas em 1949, agora estruturados numa Escola de Belas Artes nos moldes da Escola Nacional carioca, Locatelli teve atuação destacada desde logo, estando presente como professor do curso preparatório do primeiro ano. A primeira exposição pública de trabalhos dos alunos foi organizada por ele, que também expôs obras suas.

Em 1950 firmou contrato para a decoração da Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul, e logo sua fama chegou à capital, Porto Alegre, vencendo em 1951 uma concorrência do Governo do Estado para executar um ciclo de painéis no Palácio Piratini. O Rio Grande do Sul, circunstancialmente, atravessava um período de crise e se buscavam símbolos que pudessem mobilizar a população e acender seu civismo. Não surpreende que o tema desse ciclo, instalado na sede do poder político estadual, tenha sido a formação histórica e étnica do povo rio-grandense, tratado com forte carga emocional e monumentalidade e centrando a atenção nas Missões Jesuíticas, nos Bandeirantes, na criação de gado e no gaúcho, no folclore nativo, na família como unidade social básica, na aventura da colonização e na agricultura.

Ainda em 1951 passou a dar aulas de Arte Decorativa no Instituto de Belas Artes da capital, ao mesmo tempo em que consolidava sua carreira de decorador de igrejas e outros espaços públicos, carreira a que se aplicou incansavelmente até sua morte. Tornando-se conhecido no centro do país, a partir de 1957 executou diversas obras para bancos e empresas particulares de São Paulo, geralmente tratando de tópicos da história e cultura paulistas.

Entre os edifícios religiosos que decorou estão a Catedral de Santa Maria (1954), a Igreja de Santa Teresinha (1957), a Catedral de Novo Hamburgo (1959), a Igreja de Nossa Senhora de Lourdes (1960), e a Catedral de Porto Alegre(obra pequena). Entre os edifícios civis estão a Reitoria e o Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1958), e o antigo Aeroporto Salgado Filho, com obras de caráter histórico ou alegórico. Em Sul trabalhou em vários locais, destacando-se os murais do antigo pavilhão de exposições da Festa da Uva (hoje a Prefeitura, 1954) e o que é considerada sua obra-prima: a decoração da Igreja de São Pelegrino, composta por um vasto ciclo de afrescos com vários episódios bíblicos, que lhe custou dez anos de trabalho, e uma Via Crúcis pintada em tela entre 1958 e 1960, talvez sua criação mais arrojada, que incorpora elementos do Modernismo com que entrara em contato no Brasil.

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